sexta-feira, 20 de março de 2009

Fraqueza.

Pare de bater. Enquanto for tudo fraqueza, não abrirei as portas. Pare de bater.
Sou um castelo de cartas, querido, cartas de copas ruindo umas sobre as outras.
Pare de bater. Enquanto for tudo fraqueza, não abrirei as portas. Pare de bater.
Sou a estátua oca do vale, derretendo sob a chuva torrencial e o silêncio absoluto.
Existe um lugar e um momento para tudo isso, até lá nós manteremos as chaves...
Pare de bater. Enquanto for tudo fraqueza, não abrirei as portas. Pare de bater.
Pare de bater. Enquanto for tudo fraqueza, não abrirei as portas. Pare de bater...
Sou um castelo de cartas...
Cartas de copas ruindo.

- Danielle Bernardi

quarta-feira, 11 de março de 2009

Chega de saudade.

Cansei da luz lá fora, da nostalgia tão atraente, tão dolorida. Dos dias em que a arte se fazia sem palavras, em que as pessoas passavam, corriam, voltavam, e algumas permaneciam, com aquele sorriso-promessa de "eu-vou-ficar". Cansei da saudade dos dias que se foram, e dos que não vieram, dos que nunca virão. De todo o riso esquecido, das lágrimas guardadas, dos sonhos adormecidos. Cansei de querer tudo de volta. Cansei de mandar tudo pra longe. Cansei da dúvida, do desejo, de estar cansada, de ter todas as forças. Saudade daquela gente e de quem eu era com eles, e o medo de nunca ser como antes, e o alívio de estar sempre mudando, e a incerto bem a frente - na ponta do nariz. Toda aquela gente, do passado, do futuro, do atemporal que não se envaidece, que não se envenena. Eram dias que não voltam - os que foram e os que nunca chegaram a ser. Dias de olhos abertos, e dedos agarrados a vida, e o idéia tão tola de a-eternidade-é-agora. Saudade daquela idéia também. E da falta de preocupação, da sensação o-mundo-pode-explodir-com-a-força-do-meu-riso. Metade desses dias são passado, a outra metade são sonhos, projeções do futuro, esperanças pulsantes que doem, impelem, enlouquecem. Esqueça todo o resto, o meio-tempo não conta, quando se vive o agora não se sente, se vibra. O meio-tempo é só saudade. Nostalgia da vida correndo contra a pele, das noites sem fim que ecoavam nossos sonhos. Saudade da falta de pretensão, do vamos-viver-agora/nada-mais-importa. Dos dias que valeram a pena, que foram marcados, que sangraram, sorriram, tomaram chuva, se afogaram em dor. Saudade de todo uma porção de coisas que não voltam, não se repetem. Medo de esquecer. Medo de deixar de viver. Todo aquele ar enebriante, os eu-te-amo que não eram ditos, mas são gravados nos olhos e na pele. Saudade de cair de sono, de cansaço, com um sorriso débil de quem não salvou o mundo hoje, mas salvou a alegria de viver. Saudade dos momentos em que essas palavras se encaixam com graça, sem parecerem tristes em demasia ou perecerem em si. Toda essa saudade que não cabe no peito, que não explode, que só se acumula. Que preenche tantos dias mais, tantas fotos, tantos textos. E a cumplicidade dos olhares que virão, os é-eu-me-lembro-também que tornam tudo mais leve. E essa nostalgia tão agridoce, que fica presa no céu-da-boca com aquele gosto confuso que não se entende, não se explica. E aqueles momentos em que o cheiro da saudade é mais forte, em que é preciso ter em mãos um pedaço da lembrança e trazê-la ao peito, e tê-la entre os dedos. Cansei de saudade, quis mandá-la embora, fechar a porta em sua cara e não pedir que me escreva. Mas não pude, mal abri a porta e já a sentia lá, tão forte, tão enraizada, tão querida. Daquele dia em diante agarrei-me nela com fervor, saudade tão necessária, tão dolorida, tão atraente. Cansei de não ter saudade das coisas que não foram, que não aconteceram. Todos aqueles momentos e sonhos que estiveram a um passo de serem concretizados, mas foram levados pelo vento e só deixaram suas sombras esmaecidas, enfraquecidas. E quando percebi, sentia falta delas também. E me olhei no espelho, cheia de buracos faltando, meio-cheios de saudade, meio-cheios da lembrança pedindo sempre um pouco mais, um pouco mais de tudo aquilo. Saudade, fome de ter saudade. Meus buracos, todos meio-cheios, meio-vazios, tão doloridos de saudades me pediram esperança... E esperam sempre mais, um pouco mais de tudo aquilo.

- Danielle Bernardi