domingo, 28 de fevereiro de 2010

Vácuo Absoluto.

Diga-me a palavra, e em resposta lhe darei um grande espaço - em que quebrarei as sílabas para que seus estilhaços se cravem em partes imóveis do sistema. Diga-me a palavra, para que em meu abraço ela se desfaça e nada mais reste além de seu eco em meus pensamentos. Prosto meus ossos cansados e meus dedos cheios de tinta diante de você, cordeiro que sou, para que me dê a palavra: o golpe fatal. E me ofereço para ser recipiente, uma vez que trago esse grande espaço, uma vez que trago essa grande sede - uma vez que me fiz esse grande vão. Dê-me a palavra e sua sombra, seu sabor. E como prova de minha reciprocidade, em cada espaço meu estará a cíclica repetição de sua essência sem grafia.
- Danielle Bernardi

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Tique-taque.

Tenho pressa. A pressa indesculpável de quem espera pelo peso das ruínas com a ansiedade de uma vida inteira. A urgência de quem tem um abismo crescente dentro de si. Então sim, tenho um tiquetaquear incessante dentro do peito: ouça as peças desreguladas rangendo: a valsa dos espaços vazios: fome de impossibilidades - que é mecanismo que movimenta todo o ser em si.
- Danielle Bernardi

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Menina.

Respirava de mansinho, para não perturbar o calor. Era criança que caçava estrelas, menininha de sonhos cadentes. Trazia numa mochila toda a curiosidade do mundo, abraçava-a antes de dormir, ronronando nomes que nem sabia conhecer. Deitava na relva sob o manto da noite, desenhando as constelações que vinham de dentro com a palma de dedos pequeninos. Era moça, era mulher, era senhora. Era o dia amanhecendo nos olhos. E vejo-a sempre, entre o verde das colinas. Corre atrás de borboletas com o fascínio de quem descobre a arte na vida. E se entrega à paixão com a inocência de seus olhos arregalados e o deslumbramento de seus sorrisos. Vejo-a acenando ao longe, com a delícia de quem tem a vida toda pela frente: em um mesmo instante.
- Danielle Bernardi