quarta-feira, 31 de março de 2010

Sentença.

Ando curvada sobre as horas nuas da tarde, para que o vento não me toque o vão gravado no peito. Os paralelepípedos que trago sob os pés: dançam, ordinariamente passo à passo. E o dia escorre - sem que ninguém veja. E entre o infinito mar de estrelas está escrito que a vida perseguirá aqueles que a procuram. Então deixa a sombra mover, deixa os olhos abertos espreitando no escuro, deixa a engenhoca cardíaca perto do chão. Deixa o mundo correr, o caos assombrar. A onda virá: com fúria - ternura - crueldade - resilência.
- Danielle Bernardi

sábado, 27 de março de 2010

Ruas de Hamelin.

Cala-te, meu bem. Como o vento cálido que não sopra, mas sabemos que existe. Deixa o bicho correr solto entre a neblina, deixa o medo devorar o que há embaixo da pele, deixa a tua marca: o teu nome: o teu vazio. Sou esse mesmo porto no horizonte com o convite para que venhas e leve - tudo. E não precisa me dar nada em troca, nenhuma sílaba doce, nenhum sonho cantado, nem mesmo uma boa lembrança. Apenas... Venha e leve. O que quiser é seu. E mais aquelas coisas que vais levando sem saber, sem que eu saiba que cedi. Então é isso meu bem, não me ofereça nada, nem mesmo uma palavra, muito menos uma promessa. Só preciso manter esse vazio de você comigo, esse buraco negro girando em um querer sem fim. Só preciso que venha, que encante, que torne impossível respirar. Preciso do chamado da flauta nas ruas desertas debaixo de toda essa neblina.
- Danielle Bernardi

domingo, 21 de março de 2010

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Se continuar sem fé é o que é preciso: então que seja. Não importa. Nós dois sabemos que ainda estarei de pé sobre os trilhos: à espera do trem. Então: que seja.
- Danielle Bernardi

quarta-feira, 10 de março de 2010

(In)Vitro.

Quero dizer coisas que vem e vão: além. Então que seja, como for. Que a vida me acerte em cheio e que não haja espaço para respirar. Que o teto desabe sobre minha cabeça e que a dor seja linda e agridoce, como deve ser. E que toda a paixão seja desesperadora - enlouquecedora - como o lado de dentro da veia. Let it be, babe, let it be. Deixa a enchente ir e vir: além. Que seja, como for. In-ebriante, in-toxicante - e in-suficiente.
- Danielle Bernardi