Talvez seja disso que a vida seja feita: notas caleidoscópicas que não se pode ter. Um série de fotos que se abrem, como janelas, bem a sua frente, bem longe do seu alcance. Talvez seja só um fim de tarde, em que voltamos para casa ouvindo o caos do universo se instalar e assentar dentro do peito, como quem encontra o caminho de volta ou descobre que é possível andar sozinho. Um momento de clareza, que sopras as nuvens para longe, e deixa a tempestade para depois. Quando o mundo é um espaço vazio para se colorir, e é possível começar tudo de novo. Quando não há mais ninguém, apenas a quietude de ouvir a si próprio em silêncio. Talvez seja isso o que estivemos procurando por tanto tempo. Andar sobre as cordas com a beleza e a graça de quem pode voar, tendo a certeza de que o mundo é do tamanho daquilo o que se sente, e que não importa o que, quando ou onde, na verdade nada importa porque tudo pára por um instante. É quando os relógios calam, e o tempo desaparece. Quando se dança com o vento sem sentir o peso do corpo. E é tudo o que é, e não o que deveria ser. E a razão das coisas parece se alinhar com a sua própria razão de ser. Talvez seja isso o que chamam de liberdade. Aquilo que todo mundo deseja e fala sobre, mas nenhuma lei humana explica. Quando as palavras são um artifício bonito que se usa para fazer círculos em volta de si mesmo, desenhando cores que a gente não lembrava que existiam. Quando o som toca de verdade, e despe-nos de todo o resto. Quando se fecha os olhos e não se está em lugar nenhum, a não ser dentro de si mesmo. Talvez seja quando se encontra consigo mesmo, aceitando-se em uma carícia silenciosa que sussurra através da pele. Quando é sempre possível se perder e se encontrar, e voltar àquele mesmo lugar, o ponto onde tudo começa e onde tudo termina.
- Danielle Bernardi