quinta-feira, 6 de outubro de 2011

[Mal]Dito.

Quando tudo o que se diz não passa de fumaça, de barulho branco, estática, interferência, ruído, uma cacofonia desgraçada entre a qual te digo tanta coisa... E o tempo passa e não perco essa mania de dizer, maldizer. Sou semi, pseudo, qualquer coisa, entende? Não, é claro que não. Porque isso que te digo é mais pra mim do que pra você, mas preciso de alguém que saiba além de mim ou sinto que vou morrer. Não, drama demais. É aquele mesmo maldito fio desconectado, fio solto, perdido, desesperado. E ouço minhas próprias palavras escorrendo e caindo e acertando o teclado tão gravitacionais e sozinhas, despencando sem parar. E quem puder que me alcance.

- Danielle Bernardi

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Warning Sign

Costumava murmurar coisas ao vento quando não tinha ninguém olhando. Quando não tinha ninguém ouvindo. Quando não tinha ninguém. Forma de procurar você, tão fora do alcance. Costumava subir a colina para ver a tarde e o tempo passar, para sentar naquele banco que um dia sob minhas palavras se desfará. Saudade de acreditar. Aqueles tempos que já passaram, que nunca foram, que não voltaram. E tanta gente em um mundo vazio. Cada esquina um buraco sem fim, um repetição de ontem-hoje-amanhã trazendo mais do mesmo para nossa mesa. E o querer, tão belo e brilhante, se pondo feito o sol em um horizonte que há muito já foi. E você que me escuta e que não me diz. Quem foi que desligou o som? Quem foi que me deixou procurando, farejando o ar, coisas que nem me lembro saber? Tempo, tempo, tempo. Costumava me agarrar nele. Hoje me passa a perna e finjo que não é comigo, que não vi, não ouvi, não sou. Meus dentes ferozes e famintos, que latiam promessas de dilacerar pedra-tesoura-papel, agora mal são capazes de conter o oco da boca. Saudade da falta. Essa inquietude menina que parece adormecer no meu colo, uma cama quente na não-palavra, no não-silêncio. Esse avesso que é porta que se abre para lugar nenhum. Ei, você lembra? Nostalgia incompleta. Coisas que nunca foram, que nunca soube, nunca ouvi. Sombras nos cantos dos olhos daquilo que nunca esteve lá, nem cá, nem em parte alguma. Costumava importar, certo? Costumava abrir caminho para terras do nunca. Parece que foi há tanto... Olhos que não se reconhecem no espelho. Saudade de acreditar. Lembra? E eu, que já fui. Um dia.

- Danielle Bernardi

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Passagem.

Já não sou mais aquela que antes eu era. Então, se você me procurar e não me encontrar, eu provavelmente já fui. Agora mesmo, enquanto escrevo, estou partindo. Estarei de volta antes que você saiba, e tão outra que ainda eu sendo estarei. Passos tão distantes quanto o peso dos dias que se afastam, e guardam na memória todas aquelas histórias que nunca mais serão contadas. E quando voltar, terei ido tão longe que talvez você não me reconheça. E antes mesmo que o assombro desapareça dos seus olhos, já eu terei dito adeus.
- Danielle Bernardi