quinta-feira, 31 de outubro de 2013

#2

Olhos límpidos. Eu. Você. Nós. Não mais.
E ao contrário do que pensam, é começo. É o vento entre nós. Dois. É o fundo dos olhos teus.
- Danielle Bernardi

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Cinza.

Ando meio sem rumo. Meio sem lógica. Meio procurando coisas que não são, que não estão. E não sei dizer se estou dentro ou fora. Dentro ou fora do mundo. Dentro ou fora de mim. Já não me lembro. E me pergunto pra quê. De que importa, se tudo foge pra tão longe que já não sei mais a distância entredentes? Entre dedos, entre pesares. De que importa se já não sei mais meus pontos de gravidade, de brevidade. É tudo tão ontem ainda hoje. E me acabo em cantos cíclicos que sequer me asseguram o sono. Me desfaço com espanto no instante seguinte, de novo e de novo, até que o dia seja noite, e tudo e todos o alívio de uma única sombra.

- Danielle Bernardi

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Uvas.

Faz tempo. Faço tempo. E ainda, não sei existir para além de hoje. Então quem sabe amanhã, certo? Sempre aquele otimismo que é mais derrota do que vitória. Não sei, queria soltar alguma coisa aqui, descobrir algo de verdadeiro, entrar no atrás do pensamento e conseguir uma palavra que fosse, um vaga-lume. E por esses dias tenho tentado por tudo ver com os olhos abertos. Parece que minha humanidade só existe se se redescobrir a todo instante. Sou toda mecânica e ainda assim. Tenho carne e nervos que pedem alma. E no meio da pedra: um caminho.

- Danielle Bernardi

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

[Mal]Dito.

Quando tudo o que se diz não passa de fumaça, de barulho branco, estática, interferência, ruído, uma cacofonia desgraçada entre a qual te digo tanta coisa... E o tempo passa e não perco essa mania de dizer, maldizer. Sou semi, pseudo, qualquer coisa, entende? Não, é claro que não. Porque isso que te digo é mais pra mim do que pra você, mas preciso de alguém que saiba além de mim ou sinto que vou morrer. Não, drama demais. É aquele mesmo maldito fio desconectado, fio solto, perdido, desesperado. E ouço minhas próprias palavras escorrendo e caindo e acertando o teclado tão gravitacionais e sozinhas, despencando sem parar. E quem puder que me alcance.

- Danielle Bernardi

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Warning Sign

Costumava murmurar coisas ao vento quando não tinha ninguém olhando. Quando não tinha ninguém ouvindo. Quando não tinha ninguém. Forma de procurar você, tão fora do alcance. Costumava subir a colina para ver a tarde e o tempo passar, para sentar naquele banco que um dia sob minhas palavras se desfará. Saudade de acreditar. Aqueles tempos que já passaram, que nunca foram, que não voltaram. E tanta gente em um mundo vazio. Cada esquina um buraco sem fim, um repetição de ontem-hoje-amanhã trazendo mais do mesmo para nossa mesa. E o querer, tão belo e brilhante, se pondo feito o sol em um horizonte que há muito já foi. E você que me escuta e que não me diz. Quem foi que desligou o som? Quem foi que me deixou procurando, farejando o ar, coisas que nem me lembro saber? Tempo, tempo, tempo. Costumava me agarrar nele. Hoje me passa a perna e finjo que não é comigo, que não vi, não ouvi, não sou. Meus dentes ferozes e famintos, que latiam promessas de dilacerar pedra-tesoura-papel, agora mal são capazes de conter o oco da boca. Saudade da falta. Essa inquietude menina que parece adormecer no meu colo, uma cama quente na não-palavra, no não-silêncio. Esse avesso que é porta que se abre para lugar nenhum. Ei, você lembra? Nostalgia incompleta. Coisas que nunca foram, que nunca soube, nunca ouvi. Sombras nos cantos dos olhos daquilo que nunca esteve lá, nem cá, nem em parte alguma. Costumava importar, certo? Costumava abrir caminho para terras do nunca. Parece que foi há tanto... Olhos que não se reconhecem no espelho. Saudade de acreditar. Lembra? E eu, que já fui. Um dia.

- Danielle Bernardi

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Passagem.

Já não sou mais aquela que antes eu era. Então, se você me procurar e não me encontrar, eu provavelmente já fui. Agora mesmo, enquanto escrevo, estou partindo. Estarei de volta antes que você saiba, e tão outra que ainda eu sendo estarei. Passos tão distantes quanto o peso dos dias que se afastam, e guardam na memória todas aquelas histórias que nunca mais serão contadas. E quando voltar, terei ido tão longe que talvez você não me reconheça. E antes mesmo que o assombro desapareça dos seus olhos, já eu terei dito adeus.
- Danielle Bernardi

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

(A)Temporal.

A noite é longa e silenciosa, como tem sido, desde que você partiu. As crianças há muito cresceram, seus risos, nas linhas de cada uma dessas paredes, hoje contemplam o vazio da casa: os cães que se foram, os amores que se perderam, o tempo que se derramou entre as madeiras do piso. E o nós, que se tornou eu, nesta noite que é promessa de todos os anos de antes e depois. É, meu querido, nossos passos na escada já não mais nos levarão a lugar nenhum. Nossos dias têm a nostalgia das flores murchas, do cheiro que não se desfaz. Porque é sempre ontem, não importa que dia ou estação, é sempre ontem quando pela última vez estivemos juntos. E o que eu queria era uma chuva fina no mundo cinza lá fora, enquanto um jazz suave chorasse por nós no rádio, como quando tudo o que existia eram seus braços segurando-me junto ao corpo, nossos pés descalços embalando-se em nosso minuto de eternidade, que tão rápido passou. É sempre o que vejo na janela, através dos reflexos de luz dessa cidade, que como eu, não dorme. Nosso pequeno e inalcansável instante de glória, tão ordinariamente posto entre tantos instantes mais. Mas é assim mesmo, querido, já naquele tempo diziamos adeus. Já naquele tempo sentíamos o frio que crescia e soprava no abismo de dentro. E então era ontem. Todos os dias tornaram-se ontem. E é sempre uma noite longa e silenciosa, com o que resta de nós pairando sobre o dia que não nasceu e as palavras guardadas no rádio: almost you - almost me - almost blue...
- Danielle Bernardi

sábado, 13 de novembro de 2010

Fratura Exposta.

Sob meus pés a terra treme, viva. E tenho vontade de queda, você sabe. Sob meus pés a terra treme, respira. E tenho os olhos abertos à procura. O que diz a voz que não é voz e chama? É você?, pergunto sempre. A resposta é o eco que reverbera no oco de cada canto. E você já é tão eu que ser você me parece a única salvação. Diga-me, qualquer coisa. Quebra as paredes com teus dedos de presença ausente. Sê vento, e sopra. Ponha-me em ruínas, fratura exposta. Não tenho medo. Tenho pressa. Tenho o querer que se atropela em desejo de consumir. Tenho a palavra que é silêncio, e a falta que sou eu, que é você. Então sê, apenas isso. Sê meu pensamento mais confuso e mais brilhante, e quem sabe, quem dera, exista algo mais em cada linha. E sob meus pés essa terra, sertões e veredas. Horizontes. E mais. Além.
- Danielle Bernardi

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Relicário.

Por minha ausência, o que tenho há dizer é que o silêncio é sincero. Talvez a única forma dimensional em que soube colocar aquelas mesmas coisas que sempre tenho tentado dizer à você. Queria que você estivesse aqui. Ou que ao menos soubesse que- . Que nós pudéssemos. Que fossemos possíveis. Mas tudo isso é longe agora, e o que tenho é a mesma fonte imaterial de meu discurso sem palavras. Minha quilometragem estourada no quesito de encarar a tela em branco, a folha em branco. A ausência que não tem cor e que se prolonga por uma tarde que parece não ter fim. Sei que tudo isso não passa de um demonstrativo da minha inguenuidade, e que você talvez seja nunca, mas é preciso ser ingênuo, é a única forma de acreditar - e acreditar é preciso, é tudo o que se tem nesse breve espaço de respiração entre dias e anos. E sei que nós foi sempre efêmero, sempre o coração partindo e um buraco no peito. É por isso que preciso dizer que- . Agora. Preciso dizer porque sou noite sem estrelas e preciso que você acredite. Não assim, nessa ordem. Só precisava mesmo era saber que nunca mais vou conseguir colocar os pedacinhos todos juntos como eram antes, que fomos para sempre, que nada foi em vão. E que através de todos os anos que virão: hoje existiu.
- Danielle Bernardi

domingo, 15 de agosto de 2010

#1

Abre as portas do teu abraço, para que em sol, se faça chuva.
E deixa ser - deixa ser - deixa ser.
- Danielle Bernardi