domingo, 20 de setembro de 2009

Prece.

E não sei fazer outra coisa, além de estar aqui: continuando ininterruptamente nessa busca de te dizer coisas que não têm palavras. Só quero deixar as coisas como estão por um instante, fechar os olhos e ir pra longe. Te buscar no silêncio e em qualquer canto. E não sei sentir outra coisa, além dessa falta, dessa urgência, desse quase-sentir desesperado. E eu continuo caindo, sempre sobre o mesmo ponto. E te sinto tão perto... E não consigo respirar.
- Danielle Bernardi

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Chamado.

É. Um daqueles momentos em que se é possível ouvir uma respiração, bem abaixo da superfície. Alguma coisa, viva, rastejando. E a força necessária para mergulhar na dúvida, com a graça de quem sente o vento no rosto e a palavra na boca. Com o gosto de quem absorve música por contato, pulando na beleza do abismo. É. O medo pulsando, de forma ensurdecedora, e a liberdade momentânea do sorriso - de quem fecha os olhos e se afoga no inebriante da essência, do imaterial, do efêmero - do agora. E seus olhos tão indefectíveis, que eu continuando guardando, atrás do pensamento, bem no fundo do principio e do fim.
- Danielle Bernardi

domingo, 13 de setembro de 2009

Globo de Vidro.

Limpei o embaçado do vidro e olhei o mundo lá fora: a chuva caía. E meu mundo girava e girava, como uma redoma embalando meu sono, calma, tranquila, constante. Perdi meus pensamentos em algum canto, procurando perguntas para as respostas que eu não entendia. E tive a moleza do corpo com um sinal de ausência, de mim dessa vez, não de você. E a lucidez estava clara e límpida, fora do meu alcance. Por isso, perdoe meu egoísmo central, não entendo nada nesses dias, além da constatação de fatos totalmente contrariáveis como meu estado de espírito. E sou como o lodo, embaixo de toda essa chuva. Desfazendo-se em começos e fins, em dobra, ondas e objetos estranhos. E sou como a busca pela palavra, para verbalizar o irracional. Com vontade de uma coisa que não sei o que é.
- Danielle Bernardi

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Caça-palavras.

Me empreste um minuto do seu tempo: vou brincar de caçar palavras na sua boca, enquanto o mundo desaba em gotas grossas do lado de fora. Não me interessa todo o resto, quero a loucura gloriosa de só ter você na minha cabeça, e a lucidez brilhante - vacilante - de dar três passos em direção ao incerto. E inventar arte de um jeito que te faça rir, deixar o estômago pulsando e o coração embrulhado. Me empreste um minuto, uma fração da sua vida: você já tem as chaves, venha e tome o que quiser. E no fim, quando eu abrir os olhos, voltarei girando ao centro oco de tudo. Vou caçar palavras na sua boca para falar das coisas que eu não entendo - para disfarçar minha forma toda vez que você me ver por inteiro - para preencher o silêncio dentro do oco, e o oco dentro da boca. Para falar de coisas que eu não entendo e calar o silêncio por uma fração de segundo, por uma fração de nossas vidas.

- Danielle Bernardi