segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Warning Sign

Costumava murmurar coisas ao vento quando não tinha ninguém olhando. Quando não tinha ninguém ouvindo. Quando não tinha ninguém. Forma de procurar você, tão fora do alcance. Costumava subir a colina para ver a tarde e o tempo passar, para sentar naquele banco que um dia sob minhas palavras se desfará. Saudade de acreditar. Aqueles tempos que já passaram, que nunca foram, que não voltaram. E tanta gente em um mundo vazio. Cada esquina um buraco sem fim, um repetição de ontem-hoje-amanhã trazendo mais do mesmo para nossa mesa. E o querer, tão belo e brilhante, se pondo feito o sol em um horizonte que há muito já foi. E você que me escuta e que não me diz. Quem foi que desligou o som? Quem foi que me deixou procurando, farejando o ar, coisas que nem me lembro saber? Tempo, tempo, tempo. Costumava me agarrar nele. Hoje me passa a perna e finjo que não é comigo, que não vi, não ouvi, não sou. Meus dentes ferozes e famintos, que latiam promessas de dilacerar pedra-tesoura-papel, agora mal são capazes de conter o oco da boca. Saudade da falta. Essa inquietude menina que parece adormecer no meu colo, uma cama quente na não-palavra, no não-silêncio. Esse avesso que é porta que se abre para lugar nenhum. Ei, você lembra? Nostalgia incompleta. Coisas que nunca foram, que nunca soube, nunca ouvi. Sombras nos cantos dos olhos daquilo que nunca esteve lá, nem cá, nem em parte alguma. Costumava importar, certo? Costumava abrir caminho para terras do nunca. Parece que foi há tanto... Olhos que não se reconhecem no espelho. Saudade de acreditar. Lembra? E eu, que já fui. Um dia.

- Danielle Bernardi

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