segunda-feira, 11 de maio de 2009

Sereníssima.

Talvez seja disso que a vida seja feita: notas caleidoscópicas que não se pode ter. Um série de fotos que se abrem, como janelas, bem a sua frente, bem longe do seu alcance. Talvez seja só um fim de tarde, em que voltamos para casa ouvindo o caos do universo se instalar e assentar dentro do peito, como quem encontra o caminho de volta ou descobre que é possível andar sozinho. Um momento de clareza, que sopras as nuvens para longe, e deixa a tempestade para depois. Quando o mundo é um espaço vazio para se colorir, e é possível começar tudo de novo. Quando não há mais ninguém, apenas a quietude de ouvir a si próprio em silêncio. Talvez seja isso o que estivemos procurando por tanto tempo. Andar sobre as cordas com a beleza e a graça de quem pode voar, tendo a certeza de que o mundo é do tamanho daquilo o que se sente, e que não importa o que, quando ou onde, na verdade nada importa porque tudo pára por um instante. É quando os relógios calam, e o tempo desaparece. Quando se dança com o vento sem sentir o peso do corpo. E é tudo o que é, e não o que deveria ser. E a razão das coisas parece se alinhar com a sua própria razão de ser. Talvez seja isso o que chamam de liberdade. Aquilo que todo mundo deseja e fala sobre, mas nenhuma lei humana explica. Quando as palavras são um artifício bonito que se usa para fazer círculos em volta de si mesmo, desenhando cores que a gente não lembrava que existiam. Quando o som toca de verdade, e despe-nos de todo o resto. Quando se fecha os olhos e não se está em lugar nenhum, a não ser dentro de si mesmo. Talvez seja quando se encontra consigo mesmo, aceitando-se em uma carícia silenciosa que sussurra através da pele. Quando é sempre possível se perder e se encontrar, e voltar àquele mesmo lugar, o ponto onde tudo começa e onde tudo termina.

- Danielle Bernardi

3 comentários:

Anônimo disse...

"Quando é sempre possível se perder e se encontrar, e voltar àquele mesmo lugar, o ponto onde tudo começa e onde tudo termina."

E quando vc não deseja começar onde termina e nem teriminar onde começa? =(

Ana Elisa disse...

Então não sou só eu que me lembro daquele lugar. Não sou só eu que desejo voltar a me sentir serena como me sentia lá! Mas ás vezes me parece pecado querer desejar voltar.

Acho que vc vai me entender!

Bjuus

Fabio Marchioro disse...

Acho que todos sentimos um tipo de saudade deste "lugar", que pode ser um momento, um sentimento, um olhar. Uma pessoa.