sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Anjo de Porcelana.

O grito rompeu na garganta, deixando no eco a sensação de borbulhas doces. Respirava com o cansaço de quem tenta ir mais longe, mais fundo do que permitido. Ofegante e pequenina: alma tão turbulenta, tão inquieta, tão desassosegada. E aquele voar raso - aquele quase cair - bem perto do chão. Bati com o dedo na superfície do vidro, provando sua amargura, sua frustração. Querendo alcançar sua mão, tocar suas asas, beijar sua fronte. Querendo estilhaçar a impossibilidade com minhas palavras e ver o sol se pôr sobre nossas dores. E você do outro lado, dançando dentro de sua gaiola: fechava os olhos e deixava o mundo entrar. Queria unir nossos dedos e nos tornar uma só pessoa. Queria nossa existência mútua, nossa permanencia sobre um mesmo palco. E buscar mais longe, mais fundo. Tocar com suavidade, com ternura o suficiente para converter os olhos em nascentes de águas salgadas. Queria sentir o palpitar entre as costelas, a falha, o disparo, a desaceleração. O vibrar caracteristíco pelo qual temos esperado há tanto tempo. E você pedia vida, em porções cada vez maiores: até o limite do insuportável. Pedia o corpo marcado por dores invisíveis, pedia tudo: até a última gota. Eu só pedia o espaço suficiente para te oferecer tuas asas, e unir nossos dedos enquanto corríamos em direção ao abismo.
- Danielle Bernardi

Um comentário:

Gaiteiro disse...

Novamente sinto o cheiro de suas palavras... Lindas, tranqüilas, porém desejosas...
Sinto em cada texto seu a vontade de que algo se realize, e só posso desejar que isso realmente aconteça...
Anjos de porcelana sobem ao céu, mas podem se quebrar, caso não os seguremos no ar...

Lindo seu texto, mesmo!