domingo, 22 de novembro de 2009

Sertão de Sadim.

Haverá um dia em que esse meu destino de ser eterno passageiro me levará além do alcance dos seus olhos. Haverá um dia em que minha asas de borboletas rasgadas serão minha única chance de vôo. Haverá um dia em que sairei pela porta e não terás mais notícias minhas.
Enquanto eu viver, haverá um dia para todo o caos que me aguarda. Enquanto eu viver, meu toque será o princípio da história de sadim. Entrelaçarei meus dedos à dúvida: e caminharei com ela: para todo o canto. Criarei aquarela da minha ruína: sonhando com cores que ainda estão por vir.
Haverá um dia em que minhas palavras serão o gatilho para o silêncio que me espreita. Em que a espera vai bater à minha porta: trazendo de volta todas as minhas cartas endereçadas ao vento: caindo aos meus pés como folhas secas no outono.
Haverá um dia em que a chuva se recusará a cair por mim: e minha seca se fará sertão: entre um piscar e outro.
E quando eu não puder mais sentir, haverá um segundo pelo qual tudo terá valido a pena, e vou desejar fechar os olhos e gaguejar minha respiração falha para implorar que fique. E quando, no instante seguinte, todo o resto voltar à suas órbita normal: estarei arruinada. Meu tiquetaquear será sempre essa melodia desregulada, esse ruído irreversível. E meu toque será passageiro, como um floco de neve estilhaçando-se no asfalto. Mas, estarei sempre à um sopro de distância. Despedaçando-me em gritos do lado de dentro, perecendo em silêncio do lado de fora. Veja a marca dos meus dedos na sua porta, trago a tinta do batente misturada a pele e mantenho o frio dos dedos dentro do bolso, carregando à ausência entre os seios. E quando não puder mais me ouvir: desvaneci. Integrei-me à um vento que passava e me perdi.
Haverá: enquanto eu viver: um dia.
- Danielle Bernardi

2 comentários:

Evelyn disse...

Que mágicas palavras.
Totalmente palpável seu texto, está no hall dos meus preferidos. Parabéns. Anseio por ler o que escreve, não saio mais daqui.

Carla disse...

Da Primeira a última palavra fiquei presa.
Incrível.
Maravilhoso.
É só o que posso dizer.