quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Redemoinho.

Bata a porta ao sair. Preciso que sua ausência faça barulho do lado de fora, antes que enolouqueça. E que os gritos dentro de mim percam a força, substituídos pelo retumbar de um motor tão falho, tão cansado. E quando os outros começarem a aparecer, vou sentir aquela mesma peça - desconectada na parte de trás da minha cabeça - comprometendo minha mecânica toda. Então vou sentar no chão, quando ninguém estiver olhando, perscrutando à mim mesma em busca de um sinal: emaranhando meus dedos nos nós que me compõe. E que não me olhem nos olhos por tempo demais, sou buraco sem volta. Deliro com fantasmas esquálidos e hematomas entre as costelas, pedindo à dor que me beije a fronte e me ponha para dormir. E quando ela não vem: minha apatia me leva. Carregada em seus braços sou ponto: sou começo: sou final. E continuo precisando ouvir sua ausência fora-do-meu-corpo. Desmembrar meus vazios em pilhas de dez centavos: construir pontes entre a impossibilidade e o róseo dos seus lábios. Venta-me com o ar dos seus pulmões: prefiro me desfazer em grãos - pousar na sua janela e encontrar descanso.
- Danielle Bernardi

3 comentários:

Unknown disse...

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Você tem aquela estranha e linda mania de saber combinar texto e plano de fundo, ou melhor, audio de fundo.
Se tem alguém que eu amo escutar, minuciosamente em cada linha, em cada desabafo escondido, atrelado a várias palavras pra tentar fingir que não está lá, em cada pensamento, cada espaço...esse alguém é você.

Você me toca.
E eu te amo.
E amo te ouvir, hoje e sempre.


Evelyn disse...

Você combina as palavras de maneira inagualável.
incrível como meche com nossos sentidos.

Gaiteiro disse...

Mais uma vez seu texto vem como uma rajada... Cada palavra parece inspirada da mais profunda sensação de certeza... A certeza que eu tanto busco, mas não consigo encontrar ou colocar nas coisas que escrevo... Invejo isso, invejo de uma forma boa!