domingo, 19 de abril de 2009

Sopro.

Porque às vezes a certeza faz falta. E tudo o que resta é um buraco enorme, sem promessa para ser preenchido. E até o vento ecoa num oco esquecido, envelhecido, dolorido. E somos todos velhos solitários, oferecendo bengalas de apoio para nossos corações, se encolhendo do frio e da esperança de sonhar de novo. E somos todos almas perdidas, cegas, batendo contra paredes, fingindo que tudo está bem. Enquanto isso o tempo passa, marcando o vazio dos dias de espera e a fumaça das alegrias que juramos ter sentido um dia. E nada nos resta, além de alimentar nossas ilusões e cogitar sonhar de novo. A dúvida assombra, alimenta, entristece, transtorna. E tudo o que queremos é a fé justificada, a causa certa, o destino concreto. Só por um momento, antes que tudo nos enlouqueça. E como a fé justificada nunca chega, nossas mãos se fecham em torno da fé cega, da esperança surda, esperando que um dia tudo bata a nossa porta. Então ficamos cansados do círculo vicioso, sem forças para parar de esperar, sem a chance ou a ousadia de se entregar ao desespero. Ficamos caídos, observando tudo girar dando um momento para a tristeza antes de nos agarramos a esperança outra vez, com ainda mais força. E somos todos velhos solitários, almas perdidas. Somos eu e meus reflexos, meus pensamentos, meus medos me encarando de volta. Somos um conjunto de estrelas e o caos completo. Somos a teimosia e a fé, agarradas fervorosamente uma a outra. Enquanto o tempo passa, enquanto a espera continua. E o vazio se torna espaço, se torna presença, se torna fardo pesado, manto invisível - segunda pele. E a batida mais forte se faz ouvir quando prendemos a respiração, retumbando até à ponta dos dedos, enchendo a sala por um instante, procurando direção antes de voltar para nós, com a fúria de uma onda que nos afoga por tempo o bastante para tentarmos outra vez. Para esperar sempre um pouco mais, um minuto que seja. E somos velhas almas, perdidas e solitárias. Sorrindo com o absurdo e sendo sempre um pouco mais tolas para continuar. Um pouco mais determinadas, um pouco mais esperançosas. Somos o grito incontido, o chamado constante. Somos eu e meus fantasmas, meus sonhos, a procura de um lugar para descansar. A procura da certeza e da dúvida, numa mesma pessoa. E a fé justificada é só uma sombra distante, que não alimenta por tempo o suficiente. E a dúvida é combustível, é transtorno. É o caminho. É a palavra e o sorriso que procuramos, numa mesma fonte. Somos eu e a esperança - a fé desesperada, gravada bem fundo em um nome que desconheço. Somos todos velhos solitários, almas perdidas, à procura de esperança, à procura do esperado. Somos eu e o caminho sob meus pés, e o sentido logo em frente - quase ao alcance das mãos. Somos eu e só, correndo colina acima, esperando pela chuva que faça isso tudo desmoronar - esperando pela chance de ter algo em que acreditar outra vez. Eu e meus medos, me encarando de volta. Almas perdidas - envelhecidas, doloridas, solitárias.

- Danielle Bernardi

Um comentário:

Ana Elisa disse...

Eu no meio de uma encruzilhada esperando o vento passar e soprar no meu ouvido a direção que devo tomar para abandonar o vazio que me assola e sair em busca do que espero!

Te amo!